sábado, 2 de agosto de 2008

Mal dito, o conselho


Desde o início eu já sabia que ia dar errado. Mas sempre há aquelas pessoas que te querem vê no fundo:
-Vai lá, toma iniciativa! Pára com esse pessismismo, vai da certo sim!
E eu, pagando pra vê, fui atráz de tal moça que em tempos de escola vivíamos uma paixão platônica, um pelo outro. Talvez o verbo não tivesse que ser conjugado na terceira pessoa, pois eu, ainda vivo apaixonado, ela já não sei... E ái é que está a questão: tinha como conjugar esse verbo na terceira pessoa entre nós? Tudo indicava que não!
Helena voltara a me ligar, depois de anos apenas nos encontrando em festas de amigos em comum. Sim, a gente manteve contato. Mas nessa ligação, ela me disse coisas que me fez florescer o estômago... Não. Não fui ao banheiro. Me contara que estava disposta a tentar o que no colégio não tentamos, ficar juntos. Disse que não me esqueceu e que queria ir ao cinema, dessa vez, só nós dois.
Numa tarde quando o sol já se ia, onde já podia vê as estrelas, onde a lua já se desenhava em traços finos no céu, saimos de mãos dadas. Nos beijamos. Um beijo longo, com desejo, que em outras épocas seria calmo, confuso, com medo. Como se fosse um eclipse, onde a lua e o sol esperam anos para se alinharem e quando o último raio de luz some, num limiar devagar e paciente, finalmente a gente que olhava maravilhado o fenômeno fica num estado de êcstase dizendo com um sorriso largo no rosto:
-Que lindo! Aconteceu!
Assim foi esse o beijo. Ela colocou suas mãos no meu pescoço, enquanto combinavamos na boca, ela fazia carinho em minha nuca. Se entregando de uma forma que eu pensei:
-Que linda! Aconteceu.
Depois desse fato tive a certeza: não vai dar certo. Passamos meses com juras de amor. Vivi o mais felizes meses da miha vida, com viajens, fotos que nos registrava, e tudo o que um casal feliz tem direito.
Mas como todo carnaval tem seu fim (odeio carnavais....”carnaval, carnaval, ô carnaval, eu fico triste, quando chega o carnaval...”), ela entrou em crise! Queria fazer mestrado, viajar, se dedicar à sua vida de historiadora, respirar outros ares. E eu, estava bem aqui. Já tinha o meu estúdio onde guardava, pelo meu trabalho, fotos de momentos tristes e alegres (?) de casais, famílias, animais, prédios, plantas e alguns objetos. Não queria, nem estava disposto a viajar.
É. Ela se foi. Eu fiquei. Fiquei mal, fiquei péssimo!Quero matar aquele que me aconselhou...”vai la, vai la...” MALDITO! Mal dito mesmo! Ela se foi, não pude evitar. Me mandou um email depois de dois meses dizendo que respirava outros ares e beijava outra boca. Me pediu desculpas e disse que continuávamos amigos...e ela sabe se eu quero?
Hoje aqui com meu cigarro, olheiras e uma blusa preta rasgada, rasgo suas cartas, transformo nosss fotos, desconfiguro seu rosto jurando que na próxima (?) eu acredito mais em mim. Na verdade, desde o início eu já sabia que não ia dar certo. É um dom dos pessimistas...é um medo dos pessimistas.

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