sexta-feira, 4 de julho de 2008


Já não tenho coração para aguentar os sentimentos que a vida traz. Não tenho mais o pulmão para respirar impurezas do dia-a-dia. Não tenho mais forças para transferir o peso de um ponto a outro me fazendo caminhar.

Mas o que me mantém viva? 65 anos se passaram. Minha voz não émais escutada, meus gestos já não são os mesmos e nem esperados como há 36 anos atráz.


As vezes me pergunto em que parte deixei a douçura? Será que a artrite e artrose já a comeram também?

Olho para a fortaleza que construí, com vários braços, pernas, almas e corações. Continuo aqui. Mas os anjos não cantam mais, não há mais o barulho infernal da rádio comunitária a perturbar o dia inteiro. Sinto falta.

Minhas crias...ah minhas crias! Que saudades de vocês!


Talvez por isso eu continue aqui, parada no tempo que eu mesma desativei. Tentem me entender...já não aguentava mais estar sem sentimentos, sem pulmões e pernas para andar.
Sei que os anos não foram dos melhores, mas fiz o máximo de mim...até querer desligar esse relógio.


Vivam! Sintam! Chorem! Sofram!Sorriam! Sempre.


Por que estou por aqui a ser escrava de mim mesma?É o que me mantém viva?

Não! Que tola sou eu. Tinhas razão. Tola!

Agora que já entendo tudo, vagarei por aí a procura da parte de mim que deixei esquecida em algum lugar da minha história, em alguma década, em alguma viajem.


Vivam!Chorem! Riam! Gargalhem! Caiam! Levantem!

Vivam!

Sempre.


Obrigada.

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