- Só um milagre para salvá-la...
-Tá bom! Onde compra?
Ainda bem que não se compra minha cara... Na verdade nem sei se isso existe (?) mais.
E hoje foi assim. Ligações assustadas, preocupadas, lágrimas na garganta prestes a sair por algum lugar. A vontade que tinha era correr para te dar um abraço! Chorar junto contigo, mas só tu poderias vê, mais ninguém. Eu não choro, lembras?
Mas acho que foi o meu medo que ganhou. Medo da minha dívida com outra lápide que passam anos e não vou la, e acredite, assim é pior. Sempre achas que a droga do fato não aconteceu e que daqui há uns meses te baterá na porta novamente.
Lembrei daquele que nem conheci, e rebuliço fez na minha vida... Por que não insisti né? Poderia...
E claro, as duas eram branquinhas, com cabelinhos grisalhos, sorrisos singelos que a gente não sabe por que, mas sempre confortava né? E as mentirinhas em épocas de férias...
-Não vó, vou só vê os primos jogarem bola...
Mal ela sabia que estava toda pronta com o meu maiô, tudo articulado... Ia pra maré, e nesse dia, como ainda não sabia nadar quase morro (mas feliz) com a canoa no meio do mar. Chegando em casa, jurei para mim mesma que nunca mais faria isso (aprendi a mentir pra mim mesma).
E quando batia aquela tarde ensolarada, e eu na rua, brincando de queimada e empinando pipa, o céu azul azul, como os olhos dela...da tua, chegava em casa com o suco preparado uma bela tapioca com manteiga do sertão!
A minha ficou por lá, foram quase 10 anos sem vê-la, quase 10 anos assim, vivendo no mundo dela, só dela. Já não me fazia o suco de maracujá QUE SÓ ELA FAZ IGUAL, fazia igual...
E quando ia na minha casa, brincava comigo de soletrar...a lindinha não tinha os estudos completos, mas sentava no chão comigo, pegava meus livros e me mostrava as letras que formavam seu nome. E bem devagarzinho sussurrava:
N-O-Ê-M-I-A!
Eu me perguntava: "por que a vovó soletra assim baixinho?" E depois ela vinha no meu caderno, e escrevia, com uns garranchinhos! Eu achava lindo, me sentia bem, era a única pessoa que eu sentia mais próxima, afinal, ensaiava meus manuscritos (heheh) e a letra não era das melhores (como ainda não é), e não poderia ouvir dela : "que garrancho Linnesh!" A dela era igual. Lembro ainda hoje do alívio que tive.
Aí a noticia: "nos mudaremos em 15 dias! falarás chiado agora!"
Fiquei feliz, mas não sabia naquela idade o que significava de fato, pensava que todo mês poderia voltar a minha terra Natal e dar um beijo em quem quisesse. Chamar minha amigas na rua e brincar de espíritos no copo... Mas os anos foram passando né?
É... Ao passar dos anos ela não me ouvia mais no telefone, por mais que eu gritasse: "Oi voziiinha???" E com o passar dos anos ela nem lembrava mais de mim...já tava grandinha, já entendia e não sentia raiva dela. E foi no telefone que recebi sua notícia...
As lágrimas que aqui caem agora, e a renite que começa a perturbar me fazem lembrar do que senti...angústia! Angústia... Uma saudade que jamais matarei... Uma vontade que jamais terei como realizar, dá um beijo na sua testa, segurar as mãos com a pele já seca, e passar a mão no seu rostinho que dormiiiiiia...profundo, seguro, tranqüilo. Isso não se compra... Não tem como comprar, e ainda bem que não, o mundo estaria perdido! Não tem valor!
Acho que isso tudo me cutucou hoje. Mas eu, como sempre, não choro! -A Fria! =)
Espero que teus dias melhorem, fiquem mais azuis daqui por diante, vivestes um processo que é doloroso, mas que poucos podem! Agradece, não sei a quem, mas agradece! E eu te agradeço por me fazer sentir bem ao te fazer bem nesse dia que foi tão escuro para ti. Mas acredite, não senti a mesma dor que a tua, só você sabe, mas chorei contigo, mesmo não estando lá...
Chore! Caia! Ria! Grite! Sofra! Acorda! Viva!
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Há 4 anos